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11/08/2009

ENTRE ASPAS

José Pacheco Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto, foi professor da Escola da Ponte.
Foi também docente na Escola Superior de Educação do IPP e membro do Conselho Nacional de Educação


Você recorre demasiado a metáforas e também exagera nas aspas! Deve pôr mais notas nos seus textos, citar autores, indicar bibliografia. Deve procurar ser menos metafórico.

Assenti: É bem verdade que o faço. E, sem querer ser mordaz, esclareci que o artifício funciona como uma espécie de proteção. Quem escreve sobre Educação numa linguagem limpa, sem aspas, arrisca-se a acabar os seus dias no divã do psiquiatra.

Por isso, com o objectivo de escapar ao linguarejar 'objetivo', reincido no uso excessivo das aspas. Ofereço-vos um arremedo de 'taxinomia' dos professores que passaram pela Escola da Ponte, nos últimos trinta anos, e uma sugestão de 'trabalho para casa'.

Na Ponte, como em outras escolas, há professores que tomaram consciência da obsolescência da escola 'tradicional' e os que 'nunca perderam tempo a pensar nisso'.

Os primeiros dividem-se em dois tipos: os que tentam melhorar a sua prática, e estes são os 'bem-intencionados'; e os que se fazem desentendidos, que sabem que devem mudar mas não mudam, e estes são os 'cínicos' (nesta tipologia, quase dispensaria as aspas, mas mantê-las-ei só para arreliar os críticos).

Os 'bem-intencionados' subdividem-se entre 'praticistas', 'modistas' e 'inovadores'.

Os 'praticistas' crêem que, para melhorar o seu desempenho, basta o 'jeitinho' e a 'experiência acumulada'. Por sua vez, estes poderão ser divididos em dois sub-tipos: os que conseguem efeitos inconsequentes, que pouco ou nada mudam no essencial - os 'imediatistas artesanais'; e os que desistem de modificar a sua prática, porque 'já não estão em idade para se meterem em aventuras' - os 'desistentes crónicos'.

Os 'modistas' copiam 'modas pedagógicas', enfeitam o 'tradicional' com modernos artefatos, criam a aparência de novo, são uma espécie de 'construtivistas não-praticantes'. Subdividem-se em duas espécies: os 'travestis pedagógicos', que se mantêm na segurança do ensino transmissivo oculto sob o manto diáfano de um cenário de modernidade; e os 'militantes sazonais', que mudam de moda em conformidade com a que estiver mais 'in', com a justificação de que o que tinham tentado fazer não resultaria 'porque nem na Europa resultou'...

Os inovadores são uma espécie rara.
Poderemos considerá-la mesmo em vias de extinção.
Dividem-se entre 'neutralizáveis'e 'resilientes'.

Os 'neutralizáveis' são os alvos preferidos dos 'porquenãos'[1], que lhes destroem os projetos e, não raras vezes, a saúde mental. Os 'neutralizáveis' são dignos de alinhar ao lado de um Ferrer fuzilado, ou de uma Louise deportada, numa 'martiriologia' cujo rol só não se alonga, porque longe vai o tempo da inquisição que imolou Giordano e assustou Galileu.

Os 'resilientes' lograram encontrar uma 'gramática da sobrevivência dos projetos', que lhes permitiu escapar à sanha dos 'porquenãos' e ludibriar o sistema.

Coloquei 33 palavras e expressões entre aspas., sem pretender figurar no Livro de recordes do Guiness. Proponho que os leitores ponham ciência no lugar da metáfora, e um discurso limpo no lugar das aspas.
A terminologia que utilizei carece de uma melhor definição de conceitos, por exemplo, com recurso aos 'ideais-tipo weberianos'. Será tarefa para alguém mais entendido que eu, que não passo de um 'inovador resiliente' (aposentado) e mero 'aprendiz de utopias' (e com estas aspas já vou em 36!...).

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