Áquela que mora em mim, sabe que Rubem Alves é meu ícone...
Ela completa minha Alma com um gesto de carinho...
Tem coisas em casa que não gosto muito de fazer...quanda ela passa por aqui...deixa tudo arrumado...fico meio envergonhado, contudo seus pequenos gestos sem cobranças alegram minha Alma...
E ainda me deixa esse lindo texto...
Um texto não interpretado permanece vivo para sempre
Uma livreira me contou.
Um pai foi à sua livraria e comprou o livro O patinho que não aprendeu a voar, para seu filho. No dia seguinte, voltou muito bravo.
“Meu filho chorou ao final do livro. Ainda chora quando se lembra do patinho que não aprendeu a voar.
Isso é livro que se dê a uma criança?”
Eu compreendo.
Ele quer que seu filho só tenha alegrias.
Ele quer que os livros que seu filho lê sejam engraçados e façam rir.
As crianças não deveriam ler livros que fazem chorar.
Mas tristeza não é coisa ruim.
A poesia brota da tristeza.
Alberto Caeiro escreveu: “Mas eu fico triste como um pôr de sol/Para a nossa imaginação/Quando esfria no fundo da planície/E se sente a noite entrada/Como uma borboleta pela janela/Mas minha tristeza é sossego/Porque é natural e justa/E é o que deve estar na alma…”
Escrevi muitas estórias alegres e que fazem rir.
Mas as que mais amo são aquelas que fazem chorar.
Por que é que o menininho chorou ao ler a estória do patinho que não aprendeu a voar?
Porque sentiu aquilo que minha neta sentiu.
Ela falou, em meio às lágrimas:
“Vovô, eu não consigo ver uma pessoa sofrendo sem sofrer.
Quando vejo uma pessoa sofrendo o meu coração fica junto ao coração dela…”
Ela e o menininho sentiram compaixão.
Seus corações ficaram junto ao coração de alguém ou de algum bichinho que estava sofrendo.
Sofreram um sofrimento que não era seu.
Como ensinar a compaixão?
De que vale conhecimento sem compaixão?
Somente o conhecimento com compaixão cria a bondade. E uma sociedade em que não existe a bondade não é digna de que vivamos nela.
Como a nossa, em que a bondade foi espremida nos cantos e as ruas se encheram de medo.
Gandhi relata que a experiência que mudou o seu coração foi a leitura de um livro. Ele era ainda adolescente.
O livro o comoveu tanto que ele queria ser como o herói, nobre e generoso.
Esse sentimento o acompanhou pelo resto da vida.
Seu coração ficou junto ao coração do herói. E não importava que o herói nunca tivesse existido, que fosse apenas uma ficção literária.
Pois é isso que a literatura faz: se desprega da vida real para dar-lhe um sentido.
Livros engraçados são bons. O riso tem a função de mostrar que o rei está nu.
Mas não conheço nenhum caso de uma pessoa que tenha sido transformada por um livro engraçado.
O riso provoca crítica, mas não provoca compaixão.
Pensei então que essa poderia ser uma das maneiras de ensinar compaixão: lendo para o aluno ouvir.
Mas para que as estórias façam os seus milagres é preciso que o ouvinte seja possuído pelas palavras e levado ao sabor da voz de quem lê a estória.
Fiquei então pensando que seria melhor que gastássemos menos tempo com gramática e análise sintática, e mais tempo com a leitura.
É na leitura que se aprende a língua. Leitura sem testes de compreensão, sem interpretações, o que é que o autor queria dizer etc.
Pura emoção.
Um texto não interpretado permanece vivo para sempre, porque permanece como um enigma que nos comove todas as vezes que o lemos.
Mas um texto interpretado é um texto esgotado do seu mistério, esquartejado sobre a mesa de anatomia da linguagem.
Gostaria de conversar com o pai do menino que chorou ao ler O patinho que não aprendeu a voar.
O menino entendeu.
Sentiu compaixão.
Mas o pai não entendeu.
Não chorou.
Ou, quem sabe, ele ficou bravo não pelo choro do seu filho mas por ter, ele mesmo, sentido vontade de chorar
– mas não chorou de vergonha…
RUBEM ALVES
Ela completa minha Alma com um gesto de carinho...
Tem coisas em casa que não gosto muito de fazer...quanda ela passa por aqui...deixa tudo arrumado...fico meio envergonhado, contudo seus pequenos gestos sem cobranças alegram minha Alma...
E ainda me deixa esse lindo texto...
Um texto não interpretado permanece vivo para sempre
Uma livreira me contou.
Um pai foi à sua livraria e comprou o livro O patinho que não aprendeu a voar, para seu filho. No dia seguinte, voltou muito bravo.
“Meu filho chorou ao final do livro. Ainda chora quando se lembra do patinho que não aprendeu a voar.
Isso é livro que se dê a uma criança?”
Eu compreendo.
Ele quer que seu filho só tenha alegrias.
Ele quer que os livros que seu filho lê sejam engraçados e façam rir.
As crianças não deveriam ler livros que fazem chorar.
Mas tristeza não é coisa ruim.
A poesia brota da tristeza.
Alberto Caeiro escreveu: “Mas eu fico triste como um pôr de sol/Para a nossa imaginação/Quando esfria no fundo da planície/E se sente a noite entrada/Como uma borboleta pela janela/Mas minha tristeza é sossego/Porque é natural e justa/E é o que deve estar na alma…”
Escrevi muitas estórias alegres e que fazem rir.
Mas as que mais amo são aquelas que fazem chorar.
Por que é que o menininho chorou ao ler a estória do patinho que não aprendeu a voar?
Porque sentiu aquilo que minha neta sentiu.
Ela falou, em meio às lágrimas:
“Vovô, eu não consigo ver uma pessoa sofrendo sem sofrer.
Quando vejo uma pessoa sofrendo o meu coração fica junto ao coração dela…”
Ela e o menininho sentiram compaixão.
Seus corações ficaram junto ao coração de alguém ou de algum bichinho que estava sofrendo.
Sofreram um sofrimento que não era seu.
Como ensinar a compaixão?
De que vale conhecimento sem compaixão?
Somente o conhecimento com compaixão cria a bondade. E uma sociedade em que não existe a bondade não é digna de que vivamos nela.
Como a nossa, em que a bondade foi espremida nos cantos e as ruas se encheram de medo.
Gandhi relata que a experiência que mudou o seu coração foi a leitura de um livro. Ele era ainda adolescente.
O livro o comoveu tanto que ele queria ser como o herói, nobre e generoso.
Esse sentimento o acompanhou pelo resto da vida.
Seu coração ficou junto ao coração do herói. E não importava que o herói nunca tivesse existido, que fosse apenas uma ficção literária.
Pois é isso que a literatura faz: se desprega da vida real para dar-lhe um sentido.
Livros engraçados são bons. O riso tem a função de mostrar que o rei está nu.
Mas não conheço nenhum caso de uma pessoa que tenha sido transformada por um livro engraçado.
O riso provoca crítica, mas não provoca compaixão.
Pensei então que essa poderia ser uma das maneiras de ensinar compaixão: lendo para o aluno ouvir.
Mas para que as estórias façam os seus milagres é preciso que o ouvinte seja possuído pelas palavras e levado ao sabor da voz de quem lê a estória.
Fiquei então pensando que seria melhor que gastássemos menos tempo com gramática e análise sintática, e mais tempo com a leitura.
É na leitura que se aprende a língua. Leitura sem testes de compreensão, sem interpretações, o que é que o autor queria dizer etc.
Pura emoção.
Um texto não interpretado permanece vivo para sempre, porque permanece como um enigma que nos comove todas as vezes que o lemos.
Mas um texto interpretado é um texto esgotado do seu mistério, esquartejado sobre a mesa de anatomia da linguagem.
Gostaria de conversar com o pai do menino que chorou ao ler O patinho que não aprendeu a voar.
O menino entendeu.
Sentiu compaixão.
Mas o pai não entendeu.
Não chorou.
Ou, quem sabe, ele ficou bravo não pelo choro do seu filho mas por ter, ele mesmo, sentido vontade de chorar
– mas não chorou de vergonha…
RUBEM ALVES
Uma emocionante postagem!
ResponderExcluirComo educadora, mas acima de tudo como pessoa a minha passagem por aqui valeu muito a pena!
Simplesmente maravilhoso!
Que cada dia que nasce,
seja uma dádiva em seu destino!
Um beijo carinhoso
Coração!
ResponderExcluirAmo compartilhar a vida com você.
Ternamente sua Belí