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24/08/2009

A AVENTURA DE APRENDER

“O aprendizado deve ser uma aventura compartilhada”


Entrevista Miguel Zabalza
Doutor em Psicologia e Pedagogia e autor de mais de 100 títulos em educação,entre eles, “Qualidade na Educação Infantil” (Artmed) o professor Miguel Zabalza, catedrático da Universidade de Santiago de Compostela, esteve no Rio Grande do Sul no mês de fevereiro.
Ele foi o principal palestrante do encontro que reuniu, em Santa Maria, 240 professores de educação infantil dos colégios da Rede Marista do Rio Grande do Sul.


O que os pais buscam quando colocam a criança na escola?

Miguel Zabalza – Essa é a pergunta que todos os educadores devem fazer. Que a escola deve ter como ponto de partida para reflexão. O problema começa aí porque nós não escutamos o que o pai quer falar. Muitas vezes nem consideramos o que ele tem para dizer. Assim, a aventura escolar fica sendo dos professores e não é compartilhada com as famílias, nem com a comunidade. É preciso recuperar a história da infância como uma aventura compartilhada.

É suficiente deixar a criança brincar na educação infantil?

Miguel Zabalza –Não. Além de brincar, que é importante, também há outras coisas. Por exemplo, o conceito de trabalho também precisa e deve ser desenvolvido na infância.

Uma boa metodologia é questão de recursos, de idéias ou é questão de receita/modelo?

Miguel Zabalza – Para um bom funcionamento, uma escola precisa de recursos, mas para ela ser boa como um todo, é uma questão de cabeça, de saber o que fazer com os recursos. Também não é uma questão de receita, porque de nada adianta apenas ter tudo bem descrito. Além disso, há necessidade de cuidar que o trabalho não se torne homogêneo. O modelo é apenas um marco. É necessário que os educadores sintam-se livres para atender alunos diferentes e realidades diferentes. A adaptação do modelo à prática precisa ser original. Tão importante quanto o contexto referencial, é o papel do professor.

Quais são as demandas da criança ao chegar na escola? O que elas precisam?

Miguel Zabalza – Esse é o ponto de partida. Precisamos saber qual é a nossa idéia de criança. Eu entendo que as crianças na educação infantil estão começando a aprender e precisam de alguém que modelo brasileiro revela a criança como um ser muito pequeno que precisa de muito amor. Eu não entendo porque, pois elas chegam da família cheias de amor e essa priorização da educação afetiva pode gerar confusão de papéis entre a família e a escola.

Já no modelo japonês, o que se quer é proporcionar convivência. As crianças já vivem com as famílias num círculo de poucas pessoas e pouco espaço, então, na escola, quanto maior a turma e mais espaço disponível para conviver, mas atende a necessidade social. As turmas chegam a ter 100 crianças.

Nos Estados Unidos, a educação infantil baniu os professores homens porque há temor muito grande de que eles abusem ou maltratem as crianças. As famílias não levam as crianças às escolas que tenham educadores do sexo masculino, portanto.

Qual é o papel da família na relação com a escola?

Miguel Zabalza – As escolas modernas estão estabelecendo pontes entre a família e a escola, transformando o projeto da escola e o da família em um projeto único. Para isso é preciso muito esforço da escola. Estabelecer um plano de trabalho para 4/5 anos, permitindo que a família vá se envolvendo gradualmente com a escola é uma boa alternativa. Hoje, a escola procura, na relação com os pais, atender muito mais as suas necessidades do que as da família. Uma reunião, por exemplo, é convocado em horário que atende a rotina da escola e evite um número excessivo de horas extras dos profissionais e não nos horários mais favoráveis aos pais.

Outra estratégia que funciona muito bem é a de envolver os pais em projetos de pesquisa com os filhos. Começa com coisas simples e vai dando complexidade para envolvê-los efetivamente.

É preciso evitar a postura de que os pais não sabem nada, não entendem a escola. Esse é um comportamento que só afasta as famílias.

Quais devem ser as linhas de trabalho de uma escola que se preocupa com o futuro?

Miguel Zabalza – Uma das principais preocupações da escola hoje deve ser a de incluir serviços de apoio à família, atendendo às demandas da mesma com a diversificação de profissionais e serviços. A escola precisa se transformar num pólo educativo. Um exemplo de instituições que começam a se preparar para essa realidade pode ser visto nas inúmeras escolas que já ajustaram seus horários de expediente para poder atender os diferenciados horários de trabalho dos pais.

No caso da Educação infantil, qual a importância do currículo oficial?

Miguel Zabalza – Eu considero fundamental. É absolutamente necessário porque nem todos os professores estão devidamente preparados para oferecer um conteúdo equilibrado. O currículo oficial é a carta de direitos da criança e um compromisso da escola em oferecer oportunidade de aprendizado e desenvolvimento das mais diversas habilidades. É importante, porém, estabelecer sempre prioridades de aprendizagem.

Como se dá o ciclo de aprendizagem na educação infantil?

Miguel Zabalza – Aprender é incorporar novidades no nosso repertório, coisas novas, modelos novos. Para isso, o ciclo de aprendizagem começa com o experimentar. No segundo momento, a criança incorpora os novos conhecimentos ou destrezas, depois, passa a dominar a técnica e/ ou o conhecimento e, por fim desfruta do resultado. Aí, então, é necessário recomeçar o ciclo.

O importante é que a escola não pode ficar apenas no fazer. É preciso, também falar e escrever. Ou seja, a criança só aprende quando consegue explicar o que fez e como fez.

Eu acredito plenamente no trabalho de uma escola infantil por projetos. Tem resultados excelentes porque as operações são encadeadas com lógica entre si, a organização interna torna-se suficientemente rica, motivadora e desafiadora e possibilita o trabalho em grupo com a distribuição de tarefas.


ESTE POST É DO SITE MARISTAS

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