Havia certa vez um homem que dizia o Nome de Deus.
Quando o coração lhe doia por uma criança que chorava, ou um pobre que mendigava, ele andava até a floresta, acendia o fogo, entoava canções, e dizia as palavras, e Deus o ouvia...
O tempo passou, voltou à memsa floresta.
Mas não carregava fogo nas mãos.
Só lhe restou cantar as canções, e dizer as palavras.
E Deus o atendeu ainda assim...
Um tempo mais longo se foi.
Sem fogo nas mãos, sem forças nas pernas, não alcançou a floresta.
Mas do seu quarto saíram as mesmas canções e as mesmas palavras, e Deus lhe disse sim...
Chegou a velhice, nem floresta, nem fogo nem canções...
Restaram as palavras, e o mesmo milagre ocorreu.
Por fim, sem fogo ou floresta, sem canções ou palavras.
Só mesmo o infinito desejo e o silêncio...
E Deus tudo entendeu...
(Rubem Alves)
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