Roberto Silva, do abrigo para menores à docência responsável
Maria Alice da Cruz
Erros. De interpretação, de julgamento, de sentença, de condenação, de políticas públicas... Foi esse conjunto de injustiças sociais, sentidas na própria pele, que levou Roberto Silva a se tornar um doutor em educação empenhado em desenvolver pesquisas voltadas para adolescentes em situação de rua.
Professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), ele entende a formação acadêmica como legitimação do conhecimento adquirido ao longo da vida. Foi baseado em seu próprio desenvolvimento humano e profissional que deixou sua mensagem aos funcionários-universitários na comemoração de 15 anos do ProSeres da Unicamp: “Liberdade, Educação e Desenvolvimento só fazem sentido se considerarmos o sujeito dessas três dimensões. Para quem estamos desenvolvendo nossos projetos educacionais. O que queremos com a educação?”, questionou.
Silva enfatizou que as pessoas dão muita importância para a titulação acadêmica. “Como se os títulos tornassem você uma pessoa melhor.” Para ele, mais que somar títulos, o pesquisador deve saber por que e para quem este título será importante e quais bandeiras poderão levantar a cada aquisição de título. Ele lembra que se não tivesse chegado à universidade com uma linha de pesquisa voltada para o estudo de menores de idade em situação de rua, ninguém se preocuparia em abordar o tema em sua plenitude. Silva fala isso com propriedade, pois a necessidade de iniciar um supletivo de primeiro e segundo graus foi diagnosticada no final da pena de 18 anos no sistema penitenciário. A saga por entender por que deveria viver preso levou o professor mergulhar no estudo sobre legalidades penais e o sistema penitenciário. “Percebi que algo na minha história e na história de outros 60 detentos que foram criados em abrigos para poderiam responder a minha pergunta”. E, assim, em um tempo muito menor que o percorrido na escola formal, concluiu seu mestrado em educação descobrindo a sua própria origem.
“Durante o mestrado, perguntaram se eu estava à procura de colo, por tentar encontrar minha mãe e meus irmãos, ou procurava provas materiais para minha dissertação, mas ao final da pesquisa, percebi que, ao contrário de buscar laços de família que nunca existiram, eu estava em busca das provas sim porque acreditava que todo estava acontecendo por causa de erros de pessoas. Uma interpretação errada de um técnico do conselho tutelar, uma falta de sensibilidade de um juiz e até pelas atitudes da sociedade”. O pesquisador queria decifrar mecanismos que legitimam certos tipos de exclusão na sociedade e mostrar às pessoas as responsabilidades dela. “Minha mãe nunca nos abandonou, por isso não deveria haver a separação dela e dos quatro filhos. Ela havia morrido no mesmo hospital psiquiátrico para o qual a encaminharam quando eu tinha apenas 2 anos e meio, uma irmã de seis meses, um irmão de 1 ano e meio e outro de 7 anos. Isso meses antes de eu concluir o mestrado.”
Silva questiona a ideologia de algumas entidades designadas a decidir a vida das pessoas. Ele lembra que ficou no abrigo até os 17 anos e depois foi convidado a viver de seus próprios recursos com o dinheiro de uma caderneta de poupança entregue por uma assistente social e o endereço de uma pensão, que já estava a sua espera. “Na minha época, um jovem de 17 anos não tinha orientação financeira, sobrevivi dois meses com o dinheiro da poupança, depois acabou, e dona da pensão me pôs para fora. Sem recursos, fui sobreviver dos recursos da rua e acabei voltando para prisão”. Silva acredita que os abrigos acabam excluindo as crianças das coisas do mundo. “Fui condenado aos 2 anos e meio, ao ser separado de minha família para conviver com 800 meninos com todas as suas diferenças e disputas. Como uma pessoa que passa a vida presa vai saber viver em sociedade?”
Se alguém pensa que a realidade de Silva é única, terá de perguntar a outras dezenas de meninos do abrigo onde vivera que reencontrou na prisão na maioridade. “Tudo o que o menor faz na rua se configura como crime e é tratado em unidades de menores infratores. Na verdade, na cabeça de muitos menores é a condição de sobrevivência, como por exemplo, entrar numa casa para se abrigar, roubar uma roupa de um varal para vestir uma roupa limpa e outros mecanismos de sobrevivência que são vistos como criminalidade”.
Maria Alice da Cruz
Erros. De interpretação, de julgamento, de sentença, de condenação, de políticas públicas... Foi esse conjunto de injustiças sociais, sentidas na própria pele, que levou Roberto Silva a se tornar um doutor em educação empenhado em desenvolver pesquisas voltadas para adolescentes em situação de rua.
Professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), ele entende a formação acadêmica como legitimação do conhecimento adquirido ao longo da vida. Foi baseado em seu próprio desenvolvimento humano e profissional que deixou sua mensagem aos funcionários-universitários na comemoração de 15 anos do ProSeres da Unicamp: “Liberdade, Educação e Desenvolvimento só fazem sentido se considerarmos o sujeito dessas três dimensões. Para quem estamos desenvolvendo nossos projetos educacionais. O que queremos com a educação?”, questionou.
Silva enfatizou que as pessoas dão muita importância para a titulação acadêmica. “Como se os títulos tornassem você uma pessoa melhor.” Para ele, mais que somar títulos, o pesquisador deve saber por que e para quem este título será importante e quais bandeiras poderão levantar a cada aquisição de título. Ele lembra que se não tivesse chegado à universidade com uma linha de pesquisa voltada para o estudo de menores de idade em situação de rua, ninguém se preocuparia em abordar o tema em sua plenitude. Silva fala isso com propriedade, pois a necessidade de iniciar um supletivo de primeiro e segundo graus foi diagnosticada no final da pena de 18 anos no sistema penitenciário. A saga por entender por que deveria viver preso levou o professor mergulhar no estudo sobre legalidades penais e o sistema penitenciário. “Percebi que algo na minha história e na história de outros 60 detentos que foram criados em abrigos para poderiam responder a minha pergunta”. E, assim, em um tempo muito menor que o percorrido na escola formal, concluiu seu mestrado em educação descobrindo a sua própria origem.
“Durante o mestrado, perguntaram se eu estava à procura de colo, por tentar encontrar minha mãe e meus irmãos, ou procurava provas materiais para minha dissertação, mas ao final da pesquisa, percebi que, ao contrário de buscar laços de família que nunca existiram, eu estava em busca das provas sim porque acreditava que todo estava acontecendo por causa de erros de pessoas. Uma interpretação errada de um técnico do conselho tutelar, uma falta de sensibilidade de um juiz e até pelas atitudes da sociedade”. O pesquisador queria decifrar mecanismos que legitimam certos tipos de exclusão na sociedade e mostrar às pessoas as responsabilidades dela. “Minha mãe nunca nos abandonou, por isso não deveria haver a separação dela e dos quatro filhos. Ela havia morrido no mesmo hospital psiquiátrico para o qual a encaminharam quando eu tinha apenas 2 anos e meio, uma irmã de seis meses, um irmão de 1 ano e meio e outro de 7 anos. Isso meses antes de eu concluir o mestrado.”
Silva questiona a ideologia de algumas entidades designadas a decidir a vida das pessoas. Ele lembra que ficou no abrigo até os 17 anos e depois foi convidado a viver de seus próprios recursos com o dinheiro de uma caderneta de poupança entregue por uma assistente social e o endereço de uma pensão, que já estava a sua espera. “Na minha época, um jovem de 17 anos não tinha orientação financeira, sobrevivi dois meses com o dinheiro da poupança, depois acabou, e dona da pensão me pôs para fora. Sem recursos, fui sobreviver dos recursos da rua e acabei voltando para prisão”. Silva acredita que os abrigos acabam excluindo as crianças das coisas do mundo. “Fui condenado aos 2 anos e meio, ao ser separado de minha família para conviver com 800 meninos com todas as suas diferenças e disputas. Como uma pessoa que passa a vida presa vai saber viver em sociedade?”
Se alguém pensa que a realidade de Silva é única, terá de perguntar a outras dezenas de meninos do abrigo onde vivera que reencontrou na prisão na maioridade. “Tudo o que o menor faz na rua se configura como crime e é tratado em unidades de menores infratores. Na verdade, na cabeça de muitos menores é a condição de sobrevivência, como por exemplo, entrar numa casa para se abrigar, roubar uma roupa de um varal para vestir uma roupa limpa e outros mecanismos de sobrevivência que são vistos como criminalidade”.
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