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03/11/2008

"SEU" WALTER

A professora Márcia, responsável pelas aulas de Redação das quintas e sextas séries, tinha mesmo idéias geniais.
Os temas que escolhia permitiam profundos mergulhos na alma dos alunos e as redações, além de refletir o conhecimento de suas técnicas, a riqueza do vocabulário e a estrutura da língua, abriam espaço para que cada um passasse a limpo suas alegrias, frustrações, mágoas, ansiedades, inseguranças e, principalmente, fantasias.
E quantas fantasias...
Desta vez, entretanto, o tema indicado parecia nada ter de original.
Pedia aos alunos, apenas, que descrevessem suas opções para “A pessoa mais importante da minha escola”.
Com certa expectativa, até mesmo porque o tema passado em aula não abrigava a possibilidade recíproca de consultas, ficou aguardando quem poderia vencer o pleito.
Com singela vaidade, pensou em si mesma, mas, depressa, afastou a idéia.
Deveria ser o Márcio, professor de História, com seu jeitão amigo, seu sorriso simpático e a comovente ternura com que derretia os ansiosos corações das meninas.
Não seria, por acaso, o Sérgio?
Professor de Matemática que alternava do mau ao bom humor com freqüência, mas que amava os números muito mais que a si mesmo.
E se fosse a professora Mirian, diretora e dona da escola e que, muito estimada pelos pais, sabia fazer com sutil esperteza sua autopromoção?
Com sincera curiosidade, aguardou a resposta.
Viu no “jogo do contente” da sua vida essa busca, até mesmo como pretexto para tornar mais doce o fardo da correção.
As opiniões dos alunos, em sua segura maioria, surpreendeu-a porém.
A escolha de três em cada cinco alunos recaiu sobre a figura do “seu” Walter: responsável pelos diários de classe, giz, apagador, retroprojetores, telas, mapas, telões e um mundo mais; e ainda improvisado provedor de aventais, lanches esquecidos, caixinhas de giz abandonadas, cadernos perdidos, romances secretos.
Sem acumular as informações técnicas dos mestres que por ele passam agitados, sem o domínio das novidades que a criançada tem na ponta da língua, “Seu” Walter acumula a paciência da vida, a serenidade dos tempos, a sabedoria do sofrimento.
Felizes são todos quantos podem acumular o privilégio de percebê-lo.
Por alguns minutos ficou surpresa. “Seu” Walter?
Quem diria? Pequeno, lacônico, simples, quase nada na visão utópica dos que buscam heróis; pessoa importante de verdade na sensibilidade pura de crianças, que descobrem que pessoas imprescindíveis não são as que surgem em momentos mágicos, mas a figura constante, humilde, segura, serena, que garante a certeza de que o essencial não precisa de qualquer artificialismo para ser descoberto.
“Seu” Walter era apenas um tijolo da monumental construção que é o ensino; mas são tijolos pequenos as peças imprescindíveis que sustentam as catedrais do saber.


CELSO ANTUNES
Do Livro Marinheiros e Professores
Crônicas simples sobre escola, ensino, disciplina, inteligências emocionais,
criatividade, construtivismo, inteligências múltiplas, professores, alunos...
Editora Vozes

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