O que é um olhar?
O olhar não se encontra nos olhos.
Observação de Sartre: “O olhar do Outro esconde seus olhos”.
Observação de Cecília Meireles: “O sentido está guardado no rosto com que te miro”.
Eu não te miro com os meus olhos.
Eu te miro com o meu rosto.
Os olhos são peças anatômicas assustadoras em si mesmas. Olhos não têm sentido.
Eles nada dizem. Mas o rosto com que te miro guarda um segredo. Não miro com os olhos.
Miro com o rosto. É o rosto que desvenda o mistério do olhar.
O rosto da mãe revela à criança o segredo do seu olhar. Isso é verdade até para os animais: o olhar de um cão…
Roland Barthes é uma excepção.
Roland Barthes é uma excepção.
Ele não tinha medo de pensar seus próprios pensamentos, mesmo que não pudessem ser cientificamente comprovados.
Às vezes, a exigência de provas é uma manifestação de burrice. Acho que se ele tivesse que ele tivesse que resumir o que pensava sobre educação numa única frase, ele diria: “No princípio é o olhar…”. A educação acontece na subtil trama entre os olhares da mãe e do filho. Pois é aí que se revela o desejo.
Vejam esta deliciosa descrição da mãe ensinando o filhinho a andar:
Quando a criança aprende a andar, a mãe não discorre, nem demonstra: ela não ensina a andar, ela não representa (não anda diante da criança): ela sustenta, encoraja, chama (recua e chama): ela incita e cerca: a criança pede a mãe e a mãe deseja o andar da criança.
Van Gogh tem uma delicada tela que representa esta cena: o pai, jardineiro, interrompeu seu trabalho; está ajoelhado no chão, com os braços estendidos para criança que chega, conduzida pela mãe.
Vejam esta deliciosa descrição da mãe ensinando o filhinho a andar:
Quando a criança aprende a andar, a mãe não discorre, nem demonstra: ela não ensina a andar, ela não representa (não anda diante da criança): ela sustenta, encoraja, chama (recua e chama): ela incita e cerca: a criança pede a mãe e a mãe deseja o andar da criança.
Van Gogh tem uma delicada tela que representa esta cena: o pai, jardineiro, interrompeu seu trabalho; está ajoelhado no chão, com os braços estendidos para criança que chega, conduzida pela mãe.
O rosto do pai não pode ser visto.
Mas é certo que ele está sorrindo.
O rosto-olhar do pai está dizendo para o filhinho: “Eu quero que você ande”. É o desejo de que a criança ande, desejo que assume forma sensível no rosto da mãe ou do pai, que incita a criança no aprendizado dessa coisa que não pode ser ensinada nem por exemplos, nem por palavras.
Os educadores acadêmicos dirão que isso é piegas, romântico – não é científico.
Os educadores acadêmicos dirão que isso é piegas, romântico – não é científico.
É verdade. O que eu disse não pode ser dito cientificamente.
Só poeticamente.
acontece que, como disse Bernardo Soares, o fato é que somos incuravelmente românticos!
acontece que, como disse Bernardo Soares, o fato é que somos incuravelmente românticos!
Assim, sendo a educação uma coisa romântica (não consigo pensar uma criança sem ternura), eu lhe digo: “Professor: trate de prestar atenção no seu olhar.
Ele é mais importante que seus planos de aula.
O olhar tem o poder para despertar e para intimidar a inteligência.
O olhar é um poder bruxo!”.
Rubem Alves
Rubem Alves
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