AUTOR DESCONHECIDO
Quando eu era criança e
pegava uma tangerina para descascar, corria para meu pai e pedia: - “pai,
começa o começo!”.
O que eu queria era que ele
fizesse o primeiro rasgo na casca, o mais difícil e resistente para as minhas
pequenas mãos.
Depois, sorridente, ele
sempre acabava descascando toda a fruta para mim.
Mas, outras vezes, eu mesmo
tirava o restante da casca a partir daquele primeiro rasgo providencial que ele
havia feito.
Meu pai faleceu há muito tempo, não sou mais
criança.
Mesmo assim, sinto grande
desejo de tê-lo ainda ao meu lado para, pelo menos, “começar o começo” de
tantas cascas duras que encontro pelo caminho.
Hoje, minhas “tangerinas” são
outras.
Preciso “descascar” as
dificuldades do trabalho, os obstáculos dos relacionamentos com amigos, os
problemas no núcleo familiar, o esforço diário que é a construção do casamento,
os retoques e pinceladas de sabedoria na imensa arte de viabilizar filhos
realizados e felizes, ou então, o enfrentamento sempre tão difícil de doenças,
perdas, traumas, separações, mortes, dificuldades financeiras e, até mesmo, as
dúvidas e conflitos que nos afligem diante de decisões e desafios.
Em certas ocasiões, minhas tangerinas
transformam-se em enormes abacaxis......
Lembro-me, então, que a segurança de ser atendido
pelo papai quando lhe pedia para “começar o começo” era o que me dava a certeza
que conseguiria chegar até ao último pedacinho da casca e saborear a fruta.
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